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A internacionalização das cidades é a solução para o Brasil pós-pandemia?

  Vivemos algo impensável na história recente da humanidade, tempos conturbados, movidos por incertezas, imprevistos, insegurança, crises financeiras, prejuízos, perdas de planejamento e caos; observam-se, também, mudanças importantes na gestão e novas possibilidades de desenvolvimento, que, antes, talvez, não eram vislumbradas, pela comodidade que existia no âmbito econômico, social e comercial, e que podem contribuir para uma recuperação mais rápida do Brasil.

 

  As Relações Internacionais, cujos profissionais hoje podem ser representados pela Associação Nacional dos Profissionais de Relações Internacionais – ANAPRI, tem papel relevante nesse cenário, especialmente em decorrência do avanço da globalização, que derrubou fronteiras e fez com que a necessidade do contato internacional se tornasse cada vez mais especializado, técnico, sendo ferramenta importante para o desenvolvimento local.

 

  Este fato está relacionado ao contínuo avanço da inserção dos diversos atores no cenário internacional que buscaram sua introdução no global para garantir seu sucesso no local. Percebeu-se, portanto, a intensificação de uma prática que vinha ocorrendo nos últimos anos, mas de uma forma mais desenfreada: a descentralização das relações internacionais, num cenário em que deixou de ser exclusividade do Estado-país, passando os próprios cursos de Relações Internacionais e ter a necessidade de estudar a política externa, levando a consideração a ação empresarial, corporativa, das organizações internacionais e das diversas organizações da sociedade civil, que intervém nas ações dos Estados.

 

  Comprova-se esta mudança na importância dos atores sociais quando em 2015 a Agenda 2030 da ONU descentralizou a responsabilidade do desenvolvimento como única do Estado. O lançamento da Agenda reconheceu que para um país mudar seu status e melhorar seus índices as mudanças deveriam acontecer desde o âmbito local ao global, envolvendo em suas práticas todos os atores presentes na sociedade, incluindo a integração positiva da comunidade empresarial.

 

  A internacionalização da cidade, em conjunto com a implantação da Agenda 2030, podem alcançar este objetivo. Por exemplo, a busca por cooperação e parcerias de diversas estruturas no exterior podem garantir seu reconhecimento e difundir sua imagem, tornando possível a captação de verbas, que recebidas em dólares tornam-se de alta relevância, e a atração de investimentos estrangeiros. Estes últimos, quando são muito bem negociados por profissionais treinados e capacitados para esta função, podem garantir o desenvolvimento da cidade por anos.

 

  Ademais, diferente do que a maioria dos gestores públicos acreditam, uma cidade por menor que seja tem capacidade internacional, ou seja, quando muito bem preparada e estruturada qualquer cidade tem a capacidade de se desenvolver no mercado internacional. Este é o caso de diversos países ao redor do mundo que optaram pelo seu desenvolvimento comercial a curta escala para superar crises econômicas, como é o caso da Espanha e Portugal, essa primeira sendo exemplo internacional em Paradiplomacia. Na maioria das vezes, a deficiência desta ação está no desconhecimento de mercados com grande valor que não são visualizados por gestores sem o correto conhecimento para a área.

 

  Por outro lado, ingressando no âmbito da cooperação internacional, é possível realizar parcerias com instituições tecnológicas ou universidades em diferentes partes do mundo para alavancar a educação de um certo município, agregando valor significativo a este, promovendo intercâmbios de alunos e professores, realizando parcerias na área de pesquisas e projetos, e tornando seus produtos, ideias, projetos e realizações com valor e reconhecimento internacional.

 

  Numa atuação setorial, é possível fomentar o turismo, quando uma cidade tem suas principais estruturas internacionalizadas, permitindo o desenvolvimento deste setor gerando atração de capital, verbas e lucro para a cidade; quando não, ainda assim, facilita seu desenvolvimento atingindo os mesmos objetivos. Ainda por cima, a circulação pela cidade de diversos atores beneficia todas as suas estruturas e o planejamento econômico, permite que seus gestores se aproveitem disso para, por exemplo, promover eventos nas datas com maiores visitas, entre outras opções que atraem recursos.

 

  Por outro lado, pensando nesse futuro das cidades brasileiras, assim como ocorre em vários casos ao redor do mundo, com a adequação de um plano de desenvolvimento internacional, é possível prever que se estruturadas da maneira certa e com uma equipe formada em Relações Internacionais conduzindo sua presença e conexão no cenário internacional, a recuperação do Brasil se daria de forma mais rápida e estável, garantindo contínuo crescimento e bem-estar, podendo-se alcançar um desenvolvimento contínuo até tornar, ainda, a maior parte delas em Smart Cities.

 

  Uma Smart City, considerada como uma cidade tecnológica e industrial muito bem desenvolvida que gere lucros e atração de investidores, devido ao seu polo tecnológico que além de se autossustentar, se autodesenvolve, ou seja, mostra-se como uma cidade automatizada, que integra as práticas sustentáveis, o desenvolvimento social e a profissionalização dos seus habitantes à geração de lucro, negócios e polos tecnológicos de pesquisas. É um espaço no qual o bem-estar social, ambiental e financeiro são integrados, e a cidade está preparada para superar possíveis crises nacionais e internacionais através das suas conexões já estabelecidas e da sua infraestrutura que lhe garante um contínuo crescimento.

 

  Assim sendo, comprova-se que, com a extensão territorial e populacional do Brasil, um plano de recuperação nacional pode se tornar muito custoso, excessivamente demorado e incerto. Ao invés disso, uma ação local que garanta acesso internacional dos Municípios pode garantir um crescimento sustentável, em nível global daqueles municípios que trabalham em um plano de governo pensando em suas capacidades, desenvolvendo seus pontos fortes e fracos e visando sua auto sustentabilidade e desenvolvimento, visualizando oportunidades de negócios em diferentes parte do Mundo.

 

 

 

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Amilton Augusto

Advogado especialista em Direito Eleitoral e Administrativo. Vice-Presidente da Comissão de Relacionamento com a ALESP da OAB/SP. Membro fundador da ABRADEP - Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (2015). Membro fundador e Diretor Jurídico do Instituto Política Viva. Membro do Conselho Consultivo das Escolas SESI e SENAI (CIESP/FIESP). Conselheiro da Associação Nacional dos Profissionais de Relações Internacionais – ANAPRI. Autor da obra Guia Simplificado Eleições 2020 (CD.G, 2020). Coautor da obra Dicionário Simplificado de Direito Municipal e Eleitoral (Impetus, 2020).

 

 

Carlos Rifan

Internacionalista e empresário, com MBA em gerenciamento de negócios internacionais e criador do mapa profissional de Relações Internacionais no Brasil. Presidente da ANAPRI - Associação Nacional dos profissionais de Relações Internacionais, e um dos seus fundadores.